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Ah! Quanta diferença...

Na foto, fundada em 1540, a Santa Casa de Misericórdia de Olinda foi o primeiro hospital do Brasil e funcionou em prédio anexo à Igreja da Misericórdia  


Dr. Rafael A. Barbosa Delsin

A palavra hospital é de raiz latina (Hospitalis), vem de "hospes" - hóspedes, porque antigamente nessas casas de assistência eram recebidos peregrinos, pobres e enfermos. O termo hospital tem hoje a mesma acepção de nosocomium, de fonte grega, cujo significado é tratar, receber os doentes. Hospitium era chamado o lugar em que se recebiam hóspedes. Deste vocábulo derivou-se o termo hospício, cuja palavra foi consagrada especialmente para indicar os estabelecimentos ocupados permanentemente por enfermos incuráveis e insanos. Sob o nome de "hospital", ficaram designadas as casas reservadas para o tratamento temporário dos enfermos.  

A criação dos hospitais foi estimulada principalmente pelo aprimoramento da Medicina e pela evolução das obras sanitárias e têm sua origem em época muito anterior à era cristã. Os primeiros de que se tem notícia foram construídos em 431 a.C., no Ceilão (atual Sri Lanka e que vive atualmente a mais grave crise política e econômica de sua história com manifestantes invadindo a residência oficial do presidente). Embora, em duas das mais antigas civilizações - as do Egito e da Índia - encontramos raízes remotas das instituições hospitalares. Já na Europa, sua introdução coube aos romanos, que, por volta de 100 a.C., ergueram locais, chamados valetudinaria, para cuidar dos soldados feridos em batalha. No entanto, a vinda do Cristianismo instaura um novo ponto de vista mais humano, modificando assim a estrutura social e imbuindo o ser humano de novas obrigações; evolui então velozmente a ideia de ajuda aos necessitados e aos doentes. Comandados por sacerdotes e religiosos, os monastérios passaram a servir de refúgio para viajantes e doentes pobres. Esses lugares possuíam um infirmitorium, onde os pacientes eram tratados, uma farmácia e jardim com plantas medicinais. Foram eles que se tornaram modelos para os hospitais modernos.
 O decreto de Milão (313 d.C.), instituído pelo imperador Constantino dando liberdade de culto aos cristãos, e o Concílio de Nicéia (325 d.C.), estabelecendo o atendimento compulsório aos carentes e enfermos, constituíram a motivação final para o desenvolvimento dos hospitais. Na Idade Média, erroneamente chamada de Idade das Trevas, as ordens religiosas continuaram a liderar a criação de hospitais - calcula-se que só os beneditinos abriram mais de 2000. Um exemplar dos hospitais construídos nesta época em terras islâmicas é o do Cairo, edificado em 1283. Nele havia enfermarias distintas para pacientes com lesões, os que já estavam em recuperação, as mulheres, os doentes da visão, e assim por diante. Ou seja, a especialização já era notável.  
Os médicos egípcios formavam castas perfeitamente organizadas, cabendo-lhes títulos sacerdotais e o médico era tido em alta conta no Egito. Na Odisséia, Homero assinala que eles excediam a todos os homens.
"De fono Egípcia esposa, cuja terra
Os reproduz saudáveis ou nocivos 
E onde o médico excede os homens todos
E de Peon descende. Helena exclama,
Preparada a poção: De heróis procedem
Sim, divo Menelao; mas poderoso
Dispensa o Eterno as mágoas e os prazeres
Discursando o festim saboreemos"
Notaram a diferença para os dias de hoje?

Dr. Rafael A. Barbosa Delsin é o 1º secretário da Diretoria da APM - Regional de São José do Rio Preto.